Renault Sport – Porque não no Brasil?

O que deve estar passando pela sua cabeça deve ser algo como: “Ah, a culpa é do Brasil e seus altos impostos.” ou: “Culpa desse consumidor que compra cores e adesivos como esportivo por um preço fora da realidade”. Isso até pode ser verdade, mas como é que marcas como a Citröen com o DS3 ou até mesmo a Peugeot com o 208 GT conseguem ter seus modelos esportivos vendidos no Brasil e a Renault não?

História. 

Quando se fala de Renault e seus esportivos, poucos se lembram que na década de 1960 quem possuía licença e comercializava modelos Renault no Brasil era a Willys Overland. Provavelmente você já ouviu falar do Willys Interlagos, ou Alpine A108, como era comercializado na Europa. Carroceria de fibra de vidro, motores de 0.8 litros na versão Coupé e Cabriolet, com 32cv e 42cv respectivamente, e motor 1.0 de incríveis 70cv na versão Berlinetta.

Depois de um longo período fora do Brasil, a Renault voltou a comercializar seus modelos no país. No início da década de 1990, em parceria com sua divisão Argentina, um novo esportivo, então, surgiria: Renault 19 16s e seu belo F7P 1.8 16v de 137cv e quase 17kgf.m de torque derivado do seu hermano Clio Williams primeira geração. Um motor aquém de seu tempo e muito discriminado no mercado nacional por sua complexidade se comparado ao que tínhamos como carros “nacionais” na época. Depois que alguns anos, mesmo com o surgimento do Clio K4M de 1.6 litros 16 válvulas e 110cv (115cv na versão Flex) na opção de carroceria 2 portas, que daria um toque esportivo no modelo, não há como considerar o Clio nacional um carro esportivo, mesmo contendo toda a tecnologia e segurança do projeto francês até os modelos 2004 nacionais e sendo, disparado, o melhor modelo de sua categoria.

2013, Via Frontal, São José dos Pinhais – Paraná. A Renault anuncia a venda do primeiro esportivos após anos “no escuro”. Renault Fluence GT, carroceria derivada da divisão coreana Renault Samsung, foi a tentativa – até que bem sucedida – da Renault de voltar a comercializar esportivos no mercado nacional, mesmo com seu motor SCe F4R 2.0 16v de 180cv e câmbio manual de 6 marchas, o marketing em cima do modelo não foi expressivo, apesar de um bom carro e o selo Renault Sport, o Fluence ainda não era um puro sangue. O grande investimento veio alguns anos mais tarde com o Sandero R.S. que, além de ter o já conhecido F4R aspirado de 150cv e 6 marchas, teve fundamental participação da R.S. francesa no desenvolvimento do chassi, suspensão, freios, acerto de motor e alguns ítens que apenas um legítimo R.S. tem: rodas 17 polegadas e volante Renault Sport, bancos concha e o botão R.S. no painel que adiciona um pouco de pimenta no comportamento do motor.

Se considerarmos mercado internacional e Renault, teremos de criar um novo artigo apenas para história, modelos, participação em categorias como Group B, BTCC, campeonatos próprios como Fórmula Renault, Copa Clio, fora a dezena de modelos esportivos comercializados em todo mundo! Enfim, assunto para uma próxima vez.

O Combustível. 

Não é nenhuma novidade que a nossa gasolina não uma maravilha em qualidade, além de uma grande quantidade de etanol anidro (até 27%), existe uma quantidade grande de enxofre se comparada com a gasolina da terra do croissant, que utilizam até 10 ppm (parte por milhão) comparado as 50 ppm brasileira – 30 ppm se for a gasolina for Premium. Mesmo com etanol adicionado na gasolina européia, você tem opção entre 5% e 10% de álcool direto na bomba. Não vamos entrar no mérito de adulteração e IAD (índice anti-detonante). Nosso tipo de gasolina é um dos fatores que torna a homologação e validação de mecânica de um Renault Sport no Brasil custosa e complicada. A divisão esportiva da Renault é bem rigorosa com o desempenho final de qualquer modelo de sua linha de esportivos. Por isso o Sandero R.S. recebeu um motor nacional e todo um cuidado da Renault Sport em seu desenvolvimento até que recebesse autorização para colar a badge R.S. na tampa do porta-malas. Pior de tudo é que basta atravessarmos a fronteira e vermos que a Argentina não sofre do mesmo problema com combustíveis e por isso sempre recebeu os modelos esportivos. Mas não é apenas isto…

A Produção. 

A Renault do Brasil já tem uma família de motores e plataformas estabelecidos no Brasil, óbvio, principalmente depois da implantação da linha Sandero e Duster no mercado nacional. A possível readequação de toda linha de montagem de fábrica para receber os modelos da R.S. seriam caros e complexos por dezenas de diferentes fatores. Em exemplo é o Renault Captur nacional que usa plataforma de Duster por exemplo, enquanto o Captur europeu usa plataforma do Clio IV (Mk4). Além de plataformas, o tema fica ainda mais complexo quando se fala dos motores. Enquanto o Sandero R.S. utiliza o ultrapassado, porém muito eficiente, F4R de 2 litros, naturalmente aspirado e 150cv, os modelos europeus já estão utilizando os motores de 1.6 litros turbo com injeção direta. “- Mas o Clio R.S. Mk2 172/182 utilizava o F4R…”. Verdade, mas diga para o consumidor leigo de 10 anos atrás que ele pagaria perto de R$60.000 em um Clio que tinha apenas 400 cilindradas a mais: mais caro, menos econômico, manutenção alta, etc, etc, etc. Ora, então é simples. Basta a Renault trazer toda essa “nova” tecnologia para o Brasil, certo? Não é bem assim…e isso nos leva ao próximo tópico.

Nicho de Mercado

Após investir milhões em tecnologia, treinamento, maquinário, marketing e uma infinidade de coisas, será que o volume de vendas de um Renault Sport pagaria toda a conta e ainda daria lucro para a Renault? Lembrem-se que não basta ter Clio R.S. e Mégane R.S. na vitrine se o consumidor não está preparado para pagar o preço que eles valem e ter um volume de vendas que faça com que a conta feche no fim do ano para a Renault. Até mesmo como comparativo é complicado de se analisar pois não há nenhum modelo hatch no Brasil que tenha os números de um Clio R.S. ou Mégane R.S., por exemplo.

Os concorrentes do Clio R.S. na Europa são Peugeot 208 GTI e o Fiesta ST. Todos com motor de 1.6 litros turbo e tração dianteira. Já o Mégane tem como concorrente o Focus RS com motor 2.5 turbo e o Civic Type-R de motor 1.5 turbo, modelos também FWD. Mas há um outro ponto muito importante que quase ninguém leva em consideração: peças e componentes de reposição. A lei diz que toda montadora é obrigada, claro, a fornecer peças e componentes de reposição para os veículos de linha e ainda adiciona que é necessário manter o fornecimento por “tempo razoável” mesmo após o modelo já ter saído de linha, por volta de 10 anos em média.

O mercado automobilístico brasileiro ainda é muito jovem e caro para que montadoras tragam modelos de bom nível e esportivos que tanto gostaríamos de ter por aqui, não apenas modelos Renault. Golf R, Civic Type-R, Focus RS, etc. Existe uma infinidade de modelos que não estão disponíveis ao mercado brasileiro por “n” diferentes fatores. Enquanto isso, temos de agradecer que aos poucos carros divertidos como o Citröen DS3, Suzuki Swift Sport e Sandero R.S. estão disponíveis para os que optam pela esportividade dentro de um mercado tão limitado e complexo como o nosso.

Fonte: http://www.renaultclube.com

Escrito por Fellype

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